segunda-feira, julho 31, 2006

Costa Alentejana em 2 rodas

Depois de uns dias de praia em Porto Côvo e de uns concertos no Festival Músicas do Mundo em Sines, eis que ontem comecei a pedalar com o Gaspar e Pedro.
A primeira etapa foi de 65 kms entre Melides e Porto Côvo. Pouco alcatrão, algum pó e areia, mas quase sempre a ver o mar. Estivemos em praias fantásticas e ao fim da tarde demos um mergulho em São Torpes.
Hoje continuamos rumo ao Sul.

terça-feira, julho 18, 2006

A Ascensão

Depois da viagem no Sábado, e de um dia de Sol, piscina e relax em Torres Vedras finalmente aqui vai o post final desta aventura.

Na 6ª feira acordámos por volta da 1AM lá na gruta da Aiguille du Midi, e juntamente connosco havia mais uma meia dúzia de alpinistas que lá tinham passado a noite e também estavam a acordar. Tomámos o pequeno-almoço (com um cházinho quente incluído preparado pelos prós), equipámo-nos devidamente e saímos cá para fora por volta das 2AM.

O céu estava limpo, a lua cheia e o frontal quase que era dispensável. O casaco grande que vestia por cima de tudo só foi usado durante os primeiros 15 minutos porque nem sequer fazia muito frio àquela hora.

O percurso que fizemos até ao cume do Monte Branco começa com uma descida (e que descida!). São só uns 200m de desnível até ao Valée Blanche, mas a parte inicial é feita por uma estreita aresta de neve (“knife-edge”) com uma inclinação de uns 80º para cada um dos lados, em que olhávamos para a esquerda e víamos Chamonix 2000 e tal metros abaixo, olhávamos para a direita e víamos o Valée Blanche lá em baixo. Para quem tem medo das alturas é uma excelente maneira de começar… Ainda por cima eu ia à frente. Passinhos de 30 cm e espetar bem o crampon na neve, e cú muito pequenino…

No Valée Blanche, a caminhada torna-se pacífica. Haviam dezenas de pessoas a tentar fazer cume pela nossa via e quando olhávamos para a frente via-se uma serpente de frontais a deslizar montanha acima.

A primeira dificuldade a subir aparece logo a seguir ao Valée Blanche, é o Mont Blanc du Tacul. Até passarmos este obstáculo foram mais de 500m de subida aos SS numa encosta íngreme. Apesar de também não ser aconselhável a pessoas com vertigens, há uma maior sensação de segurança visto que o piolet vai sempre do lado de dentro e não se dá um passo sem o enterrar bem na neve. Nesta subida até ao col du Tacul as outras duas cordadas desistiram e foram para trás por não se sentirem em condições, de modo que só ficou a minha cordada – eu, o Pedro e o João Garcia.

Após passarmos o col du Tacul volta-se a descer um pouco para mais um vale e a dificuldade seguinte chamava-se Mont Maudit. Mais uma subida íngreme aos SS, mas desta vez apenas uns 300m. A esta hora (cerca das 4:30AM) começava a haver luz do dia.

A novidade no Mont Maudit era a parte final em que tínhamos de subir uma pequena parede de gelo com auxílio de uma corda fixa que está lá colocada. A parede não era completamente vertical de modo que com uma corda, um piolet e uns crampons até nem a achei muito difícil, o único problema é que passando apenas uma pessoa de cada vez formou-se ali um ‘bottleneck’ que nos fez estar à espera mais de 45min…

Depois do Mont Maudit toca a descer mais um pouco para outro vale para depois fazer a subida final. Por esta altura, aos 4300m já estava a ficar cansado e a sentir uma ligeira dor de cabeça (não sei se da altitude ou se devido a outro motivo), e o Pedro também já mostrava sinais de cansaço, mas nunca nos passou pela cabeça desistir. Tínhamos de ir lá cima e só faltavam mais 500m até aos 4807m do cume! O João tinha estabelecido as 10AM como a hora de retorno independentemente do local onde nos encontrássemos pois havia previsões de chuva e talvez trovoada para as 14:00 e ele estimava em 4 horas o tempo de regresso.

A subida final foi feita em ritmo muito lento. Um passo, duas respirações, um passo… Entretanto a maior parte das pessoas já estavam a voltar para baixo, mas mesmo assim nesta parte final ainda apanhámos uns bascos, e passámos uns franceses que já se ajoelhavam no chão de cansaço… Nós pelo menos ainda andávamos de pé!! Chegámos lá cima às 10AM. Muita alegria, emoção, abraços, fotos, mas eu ainda estava apreensivo porque ainda havia muito que caminhar. Estivemos lá pouco tempo porque o tempo não era muito…

Um bocado depois de começarmos a descer encontrámos três dinamarqueses com quem já tínhamos falado na fila do Mont Maudit. Um deles estava ajoelhado no chão devido ao cansaço, estavam sem comida, e queriam ir lá cima porque depois iam fazer a descida pelo outro lado. Pediram-nos comida e eu dei uma tablete de chocolate enquanto o Pedro deu umas pastilhas isostar. Espero que tudo tenha corrido bem, porque entretanto estava a começar a ficar enevoado.

Em vez das 4 horas de descida levámos 6! Já estávamos muito cansados e segundo o João a neve, devido à humidade do nevoeiro que se tinha levantado, estava demasiado fofa o que fazia com que perdêssemos aderência e os crampons deslizassem muitas vezes quando púnhamos os pés no chão. O cansaço aliado às condições da neve fizeram-nos demorar mais tempo que o normal.

Na fila para descer a parede de gelo no Mont Maudit (perdemos mais uns 15min) o João ainda aproveitou para fixar bem a corda que lá estava que, segundo ele, estava a soltar-se…

Só me senti mais aliviado quando chegámos ao Valée Blanche. Mesmo que começasse a trovejar, aí já deveríamos estar protegidos pelo pára-raios gigantesco que há na Aiguille du Midi.

A última dificuldade foi subir de novo o vale para a Aiguille du Midi pela tal aresta… Mas o cansaço já era tanto que eu só me lembro de ir a subir e olhar apenas para os calcanhares do Pedro que ia à minha frente. Sempre a olhar para o chão, espetar bem a bota no chão, um passo de cada vez e quando dei por mim estava no final. Eram 16:00 e começou a chover. O engraçado é que fizemos a subida final sempre a caminhar sem nunca parar: seis horas depois do cume que subimos passo-respiração-passo estávamos mais cansados mas a andar mais rápido! Foi assim que senti a diferença de 1000 metros de altitude entre o cume e a Aiguille du Midi!

Ao todo foram 14 horas e 1800m de subida acumulada.

No Sábado entregámos todos um postal de recordação assinado por nós os seis ao João Garcia, ao Hélder Santos e ao Zé Luís. O que escrevi foi:
“Sem dúvida uma experiência a repetir! Cada vez mais difícil. Cada vez mais alto.”


1. Aresta da descida para o Valée Blanche (foto tirada na véspera)
2. Mont Blanc du Tacul visto do Mont Maudit (à esquerda ao fundo a Aiguille du Midi)
3. "Bottleneck" no Mont Maudit para a passagem na parede de gelo
4. Já se vê o cume
5. Subida final
6. Lá em cima!
7. Os três artistas
8. Vias de escalada do Mont Blanc. Nós começámos e acabámos na Aiguille do Midi (www.summitpost.org)










sexta-feira, julho 14, 2006

Mont Blanc

Objectivo cumprido!
Nem sei se hei-de rir, chorar ou gritar; ainda estou confuso com a quantidade de sentimentos que me invadem.
Foi certamente a coisa mais dura que alguma vez fiz.
Agora só me apetece descansar.
Obrigado pelas msgs de apoio e um beijo à Bárbara por actualizar o blog.

quinta-feira, julho 13, 2006

Aiguille du Midi

Já estamos na Aiguille du Midi acima dos 3700 m.
Subimos até aqui de teleférico e vamos dormir aqui nas galerias um pouco antes da subida.
Neste momento estamos debaixo de uma trovoada brutal com os raios todos a cair no pára-raios cá do sítio!
A saída vai ser por volta da 1AM (a essa hora teremos céu limpo) e começa logo com a descida para o Valée Blanche por uma aresta de 1,5m de largura. Dass...
Até lá acima deveremos ter um acumulado de 1500m.

Fotos dos Alpes!! (e algumas notas)

Aqui vao algumas fotos!!

Deixo tambem um comentario em relacao a alguns 'comments' acerca da preparacao fisica dos guias, e de Chamonix:

Acreditem que estes tipos tem uma preparacao fisica impressionante! (as proezas que ja conseguiram nos Himalaias em que vao mesmo aos limites ja sao suficientes para dissipar duvidas)
Neste momento estao a preparar-se a seria para ir subir a mais um 8 mil nos Himalaias em Setembro/Outubro, e estao com uma pedalada!!...
Um deles (Ze Luis) tambem e ciclista e ja fez os caminhos de Santiago (800km) em 4 dias, o Tour du Mont Blanc (mais de 200km e muita muita subida acumulada) em 2 dias, e tambem tem algumas proezas em provas de estrada.
O Joao Garcia ja fez triatlo de competicao, ja fez o Tour Du Mont Blanc a correr/caminhar em 3 dias e meio quando o normal e as pessoas o fazerem em 2 semanas. O record e de um sherpa dos Himalaias que veio ca para fazer tudo em 19 horas!! Qual ultra trail da Freita qual que!! Faco um desafio aos rotos da Freita para virmos ca um dia destes bater o record do sherpa!! :)))

Chamonix e uma especie de paraiso para o pessoal que, como eu, gosta de desporto, natureza, montanha e essas coisas. Ve-se pessoal por todo o lado, dos 8 aos 80 equipado seja para trekking, montanhismo, BTT, parapente, etc... (no Inverno isto enche para o Ski e Snowboard)
Fico impressionado quando vejo velhinhos (mesmo velhos!!) a fazer trekking ou mesmo alpinismo com uma destreza e velocidade impressionantes. Se calhar e por nao estar habituado a ver isto em Portugal que fico impressionado, mas quando for velho quero ser como eles e nao gordo, barrigudo e com diabetes! :))
Depois ha condicoes a serio para a pratica de desportos. Podemos levar a bicla para todo o lado nos comboios e telefericos, e mesmo o pessoal sem pedalada (as nossas gajas) podem subir com a bicla ate "la cima", dar uma volta por la para apreciar as paisagens, e depois voltar para baixo.
E sem duvida em local para regressar. E tudo um bocado caro, mas vindo de carro, acampando, cozinhando e fazendo as compras nos locais certos torna-se tudo mais acessivel.

Fotos:
1. Monte Branco visto durante o trekking para o refugio
2. Trekking para refugio com glaciar do Tour a direita
3. Atras de mim o glaciar do Tour e o Chardonnet encoberto por nuvens
4. No cumo da Aiguille du Tour (agora so o cu me interessa!) , ja sei que oculos amarelos e capacete azul 'electrico' nao combinam, mas e o que se arranja...
5. Inicio da descida. So deu para parar e tirar fotos la em cima, mas esta e uma das zonas mais impressionantes da escalada; acreditem que ao vivo e mais impressionante que na foto.
6. Recta final para o cume. (conseguem ver uns pontinhos que sao pessoas la em cima??)
7. Toca a por de novo os crampons para descer tudo








quarta-feira, julho 12, 2006

Aguille du Tour

O dia hoje comecou as 3h30m e ainda estou acordado. Aquilo la no refugio parece uma prova do Eco. Ha os cromos que acordam antes do tempo e nao deixam mais ninguem dormir...

As 4h30m estavamos a caminho da montanha. O ceu estava limpo, a lua cheia, e o frontal quase nao foi preciso. Passado meia horita ja havia luz da alvorada. Foi uma caminhada longa pela neve e gelo, sempre a subir ate a primeira pausa ja do lado Suico (levava o passaporte mas nao havia la ninguem a fiscalizar), oculos de sol, protector solar, barra energetica e toca de novo a caminhar. Ai a 200m (verticais) do cume, toca a tirar os crampons e a escalar o que faltava pelo meio da rocha. A escalada era facil e eu estava encordado com o "Meistre", o que da uma seguranca extra, mas por vezes era de se borrar a cueca quando olhavamos para baixo!! :)))
As 8 e picos estavamos no cume acima dos 3500m.

Depois toca a descer! A parte rochosa foi feita com cuidado, mas depois na neve andou-se bem. As 10h30m estavamos de novo no refugio, comemos qualquer coisa, tiramos a roupa quente, e toca a descer mais duas horas ate ca baixo ja debaixo de muito calor.

Fisicamente foi dificil, mas nada de especial e ate me sinto bem, mas os meus pes estao um bocado macerados. Tenho feito tudo isto com umas botas plasticas de alta montanha (emprestadas pelo Alix e Ana Gabriel) que sao muito quentes e as quais nao estou habituado, por isso estou com algumas bolhas mas 'no pasa nada'.

Amanha vamos descansar o dia todo e so no final da tarde e que vamos de teleferico ate a Aguille du Midi (a 3800m) onde dormiremos um bocado antes de 'atacar' o Monte Branco.

PS: tenho fotos fantasticas, mas neste momento ainda nao tenho forma de as colocar online... Logo que possa ponho aqui umas fotos!

Refúgio Albert 1er

Já jantámos e agora estamos cá fora na esplanada à espera que o sol se ponha atrás da montanha, e com uma vista fenomenal sobre o glaciar do Tour.
De manhã fizemos um trekking fantástico (que paisagens!) até cá acima.
Depois da sandocha equipamo-nos e estivemos no glaciar a aprender técnicas de progressão no gelo e em cordada (gostei bastante da escalada em gelo).
Daqui a nada vamos dormir porque a alvorada é lá para as 4h.
Estou à espera de grandes emoções amanhã!

segunda-feira, julho 10, 2006

Aclimatação e Pré-Teste

As mochilas estão cheias para amanhã de manhã. Várias camadas de roupa, crampons, piolets, frontais, etc; tudo pronto para ser carregado amanhã debaixo de um sol abrasador até ao Refúgio Albert 1er a 2700m. Uma vez lá em cima aprenderemos algumas técnicas de progressão e segurança em neve e gelo no glaciar do Tour.

Na 4ªf sairemos de madrugada para tentar subir o Aiguille du Tour (3544m). O verdadeiro empeno é na 6ªf, mas hoje já fizemos uma mini-iniciação de escalada em rocha e os 3 guias já definiram os grupos: eu fico encordado com o JG e o Pedro que é um jovem quarentão, várias vezes campeão nacional de rugby.

PS: Este post foi escrito mesmo pelo Gato!

PS2: O mundo é uma aldeia. O único português com quem me cruzei na Patagónia está aqui ao lado a ressonar!

2º dia - Escola des Gaillands - I

SMS 14:29 - "Boas tardes! Acordamos cedo e fomos fazer escalada em rocha para ter umas noções básicas. Mto giro, mas ainda me falta mto para ser craque. Depois viemos almoçar e estivemos a ver fotos e vídeos do JG. Agora vamos dar volta para compras, crepes e aproveitar o sol e caloralho. Estou a gostar do ambiente e do local." (o resto da msg é só para mim!)

1º dia - viagem

Olá!
Fui "recrutada" para vir aqui dar notícias e actualizar o blog de modo a que possam acompanhar a viagem do Rui.
Se forem como eu andam desasperados por não poder ter ido! :)
Ele dormiu pouco e estava um bocado nervoso com poder não acordar. Stressou com o embalar da mala com a película protectora, stressou com a fila única da TAP para a Europa e stressou com o ter que depois despachar a mala na área de bagagem fora do formato...
Lá para as 11h telefonou a dizer que tinha chegado bem e com a respectiva companheira de viagem: a mochila com 14 Kg, fora o saco-cama, o saco com as botas de trekking e a mochila eastpack com a roupa do dia-a-dia e literatura - vocês conhecem a peça...
SMS 11:42 - "Dass! Que estoiro! 90 euros por uma ida e volota Geneve Chamonix. Nem me informei do preço do bus- Espero que seja mais caro! Sem ti aqui a fazer papel de mitra acho que vou ser chulado até ao tutano. Sabes qual o cambio euro-franco suiço?"
SMS 15:24 - "Que seca de viagem! Dass... Ainda tou algures na suiça à espera do 2º comboio e só chego a Chamonix daqui a 2h. Tou rodeado de montanhas brutais a toda a volta! :) Diz-me quem ganhou Wimbledon, sff." - O resto da sms eu não posso divulgar! :)
SMS 18:56 - Já cá tou. Vou jantar. Ligo mais tarde!
No telefonema depois, contou-me que aquilo estava a ser bem giro. O João Garcia (JG) é um tipo todo low profile, super acessível e mto bem disposto. Ele e os outros 2 guias (2 tipos que eu e o Rui já conheciamos de uma apresentação que o JG fez sobre um monte que escalou com os outros 2) tinham ido ao supermercado comprar mercearia para toda a semana. Desde o pequeno-almoço a barras energéticas para os trekkings - agora era só dividir os 80 euros por todos - uma pechincha! Já dá bem para ver o tipo de gajo que o JG é.
O jantar também foi feito pelo gajo sem nariz lá no apartamento. Acharam que o pessoal estava bem cansado da viagem e ficaram "por casa". O Rui diz que estava bem bom!
Hoje vão para uma escola de montanhismo aprender a trabalhar com as cordas e todo esse material com nome em inglês, completamente impronunciavel e que nem se percebe bem para que é que serve. Vão ter montes de lições sobre escalada.
Até mais notícias!
Bjs a todos.

terça-feira, julho 04, 2006