Tierra del Fuego em BTT
Um mês depois é chegada a hora de mostrar um pouco mais desta aventura:
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No primeiro dia pedalamos 166km (1400m de subida acumulada), desde o final da ruta 3 no Parque Nacional Tierra del Fuego até perto da Estância Indiana (algures no interior da Tierra del Fuego a uns 40km de Tolhuin…).
Podíamos ter começado a travessia em Ushuaia, o “fin del mundo”, mas optamos por ser um pouco mais ambiciosos e fomos até ao fim da estrada, no parque nacional a uns 25km de Ushuaia, para começar mesmo no fim!! :))
Os primeiros kms dentro do parque são muito bonitos e feitos em terra batida. Vale bem a pena visitar este parque pela beleza natural, pelos passeios pedestres que lá se podem fazer, ou até pelas espécies de animais que se podem ver lá.
Depois de passarmos Ushuaia só há uma hipótese de ir para norte e passar as montanhas: a estrada nacional. Fazer kms em alcatrão com algum movimento (é a estrada que liga Ushuaia ao resto do mundo) não era o que procurávamos, mas o cenário de montanhas verdes e com picos nevados à nossa volta era bonito.
Depois de algum sobe e desce passamos o “paso Garibaldi” a uns quatrocentos e tal metros de altitude. A vista lá de cima era fantástica: o Lago Escondido e o Lago Fagnano. Depois foi descer e rolar kms e kms no alcatrão com o Lago Fagnano sempre à esquerda; passamos Tolhuin; mais alcatrão, e a nossa água a escassear; até que a determinada altura viramos à esquerda para a terra batida na direcção do Lago Yehuin, e pedalamos mais uns 13kms em direcção ao interior até aparecer o Jaime. Estávamos cansados, o fim de tarde estava agradável, e decidimos acampar mesmo ali, perto da Estância Indiana.
O Pedro e o Jaime antes de começarmos a travessia
Parque Nacional Tierra del Fuego
Eu em Ushuaia
Montanhas a norte de Ushuaia
Paso Garibaldi
Lago Escondido, e lá o fundo o Lago Fagnano
Lino com o Aldo, um dos vários ciclistas que encontramos por lá. O Aldo é de Punta Arenas, no Chile, e tinha planeado 8000km para 10 meses, em que ia subir desde Ushuaia até Arica no extremo norte do Chile, fazendo várias incursões na Argentina.
Os últimos kms do dia já foram feitos numa estrada secundária
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No segundo dia pedalamos 126km (780m de subida acumulada), desde a Estância Indiana até Rio Grande.
Começamos o dia a pedalar calmamente porque devido a um “problema logístico” continuávamos com pouca água. Pedalar em estradas secundárias era bastante mais “relaxante”, e começávamos a ter mais contacto com os nossos amigos guanacos.
Após alguns kms passamos na Estância Rivadavia onde fomos pedir água. Foram muito simpáticos, estiveram um bocado à conversa connosco, e claro que enchemos os cantis.
Pouco depois de passarmos o Lago Yehuin viramos para norte; entretanto tinha começado a chover. Paramos para almoçar com o Jaime e seguimos à nossa vida. Foram kms duros devido à chuva, ao vento frio e ao próprio piso que estava pesado e enlameado. Quando chegamos a Rio Grande estávamos com frio e uma vontade enorme de um duche quente, por isso dormimos em hotel.
Por causa da chuva temos poucas fotos desta etapa, mas foi neste dia que começamos a ter as paisagens intermináveis de “pampa” que caracterizam o interior da Tierra del Fuego.
Estância Rivadavia
Antes da chuva
Com chuva
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A terceira etapa foi de 100km (870m de subida acumulada), desde Rio Grande até ao Lago Blanco já no Chile.
Neste dia pedalamos para oeste e com vento sempre de frente, por isso foi para mim a etapa mais dura de toda a travessia. Ao todo foram 10h; felizmente não choveu, mas o vento era frio e quando o Sol se escondia atrás das nuvens ficava desagradável.
Os primeiros 70km, até a fronteira da Argentina com o Chile foram os mais difíceis, quer pela paisagem desoladora, quer pelo vento.
Já no Chile havia mais floresta e o vento não se fazia sentir com tanta intensidade. O facto de a paisagem ser mais variada também deu algum ânimo… Os últimos kms antes do Lago Blanco foram lindíssimos: floresta e um descida alucinante até ao lago, onde dormimos num refúgio para pescadores.
Estância José Menendez perto de Rio Grande - José Menendez foi um dos grandes magnatas da Patagónia no início do século passado.
Eu e a minha bicicleta no meio da Terra do Fogo
Eu e o Lino
Saída da Argentina e entrada no Chile
Lino e Pedro já no Chile
Os últimos kms no meio da floresta antes do Lago Blanco
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A quarta etapa foi de 88km (570m de subida acumulada), desde o Lago Blanco até Cameron.
Descrição da etapa postada aqui a 8 de Março:
“Nesta 4a etapa foram mais 88km. Os primeiros 30 foram feitos em bom ritmo porque estávamos a ir para norte, mas quando viramos para oeste apanhamos outra vez vento forte de frente até ao final. Foi muito bonita a etapa, avistámos várias raposas, várias espécies de aves incluindo flamingos, e sempre muitos guanacos curiosos que fogem quando nos aproximamos. Quando no topo de uma colina avistamos finalmente o estreito de Magalhães lá em baixo foi uma sensação fantástica, mas os kms finais a descer ainda exigiram um esforço final devido ao vento. Cameron é o local de repouso antes da etapa final.”
Logo pela manhã a carrinha do Jaime estava com problemas para arrancar… :))
Nesta foto vemos também as nossas três bicicletas, mais a bicicleta de uma canadiana que juntamente com o seu namorado espanhol pernoitaram no mesmo refúgio que nós no Lago Blanco. Andavam os dois a pedalar pelo Chile, conheceram-se, e devem ter sido felizes pelo menos durante uns tempos…
Lago Blanco
Olhando para trás…
… e olhando para a frente
Eu em grande estilo
Lá em baixo já se via a Bahia Inútil do Estreito de Magalhães
O único problema mecânico em toda a travessia: um furo do Pedro
A poucos kms de Cameron
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A quinta e última etapa foi de 150km (960m de subida acumulada), desde Cameron até Porvenir.
A última etapa era aquela que aparentemente era mais dura: 150km em terra batida, dos quais cerca de 100km em direcção a oeste. Se o vento estivesse como nos dois dias anteriores iria ser muito duro, mas felizmente esteve apenas uma pequena brisa com um Sol fantástico.
A etapa, sempre junto ao estreito de Magalhães, e a contornar a Bahia Inútil foi muito bonita. Chegamos a Porvenir cansados mas com sensação de missão cumprida.
Começámos a pedalar mais cedo do que o costume devido aos muitos kms que nos esperavam
Ao fim de 50km tínhamos o Jaime à nossa espera, e estava a fazer-nos os melhores bifes que alguma vez comi! :) Ainda eram só 11h da manhã…
65km para acabarmos
Km 100: Jaime de novo à nossa espera para reabastecimento
Os nossos amigos guanacos
Últimos kms antes de Porvenir
Ao sexto dia acordamos bem cedo para apanhar o ferry logo pela manhã para Punta Arenas. Deixávamos a Terra do Fogo e íamos para o continente.
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Travessia completa
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Um mês depois de todas aquelas imagens e sensações olho para a frente e só penso nas próximas. Tenho muita vontade de continuar a conhecer o mundo; seja a pé ou de bicicleta, quero sentir vento, Sol ou chuva na cara; quero mergulhar em todos os oceanos e acordar nos cinco continentes; quero ver planícies sem fim e montanhas a tocar no céu. Venham as próximas viagens!
1 comentário:
O Jaime mandou-vos um abraço!
Ele lembrava-se de uma frase vossa "esta frio como o ca#####!!" :)
Um abraço
Tiago Lages
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