quarta-feira, agosto 29, 2007

Diários do Rwenzori

Já acabamos os 7 dias de trekking duríssimos e belíssimos nos Rwenzori. Muitas mazelas, mas a viagem vai prosseguir!

Os Rwenzori, declarado "world heritage site" pela Unesco em 1994, com 20 picos superiores a 4500m são a cadeia montanhosa mais alta de África. Segundo o Lonely Planet: "Trekking here is more demanding than on Kilimanjaro or Mt. Kenya. The vegetation is thick, the rain is heavy and the mud can be deep. If you are looking for true african mountain wilderness though, the Rwenzoris are the place to come." (esta é para quem quiser enfiar a carapuça!!)

Dia 1 - 10km, 4h30m, 1050m subida

Rui: O dia começou com a viagem de Kasese para a aldeia onde se iniciou o trekking. A viagem, com um motorista muito comunicativo, foi interessante porque ele nos foi mostrando as aldeias que ficam no caminho, assim como as plantações de café, banana e baunilha.

Quando chegamos a Nyakalengija, havia um grande alvoroço. Muitos guias, carregadores e locais a espera dos turistas para conseguir uns "cobres". Após tratarmos de toda a logística, iniciou-se a caminhada.

A primeira etapa foi num caminho bom com pouca inclinação, pelo meio das plantações dos locais. Depois de passarmos a entrada "oficial" do parque, entramos em floresta densa e continuamos um bom bocado paralelos ao rio Mubuku.

Duas horas depois, passamos um rio (molhando bem os pés) e paramos para descansar e comer. A fase final, uma subida bastante mais inclinada e dura, foi feita em pouco menos de 2 horas até uma altitude de 2650m, onde finalmente alcançámos o nosso refúgio.

Durante esta última etapa, o nosso guia Cipriano, foi-nos mostrando a flora local e ate chegámos a ver macacos!

O resto da tarde foi passado no refúgio à conversa com outros maníacos do trekking como nós; especialmente com um casal de backpackers polacos.

Dia 2 - 7km, 7h, 900m subida

B: Hoje escrevo eu o diário! Não há muito para dizer... O dia resume-se em três linhas, mencionando que bati o meu recorde de altitude (3380m), bati o meu recorde de porcaria (2 dias sem tomar banho, cagada em toda a roupa e sem roupa limpa para por) e bati o meu recorde de "nojeira" porque consegui andar 4 horas num pântano tal que maldisse a minha sorte e a mãe do meu-mais-que-tudo.

Claro que se pode sempre mencionar a passagem na ponte "torta", os 1500 passaritos pretos de asa vermelha (rwenzori turaco) ou as magnificas vistas e paisagens que vimos e às quais tiramos imensas fotos.

O Rui anda feliz da vida (e justiça lhe seja feita vem sempre ao meu ritmo, bem disposto e um companheirão) e eu espero sinceramente um dia mais tarde ter prazer em recordar! :)

Dia 3 - 6km, 7h, 600m subida

B: O Rui quer ser ele a escrever o diário hoje. Eu acho óptimo porque senão escrevo mais do mesmo! :)

Rui: Hoje foi dia de "bigo bog". Depois de toda a lama de ontem, já nos tinham avisado que o dia de hoje também ia ter muita lama. Começou logo com uma passagem complicada do rio Bujuku que nos deixou os pés encharcados e as galochas a escorrer água.

O "bog" é uma mistura de pântano com lamaçal que dificulta muito a progressão, pois a cada passada arriscamos-nos a ficar com lama ate ao joelho. Felizmente algumas zonas estão equipadas com passadiços de madeira, mas fora destes o ritmo é demasiado lento e psicologicamente desgastante.

O refúgio onde dormimos esta noite está a 3977m. Estamos bem fisicamente e a altitude não parece estar a afectar-nos. Tem chovido durante a noite e a espaços durante o dia, por isso estamos muito apreensivos com o que nos espera.

Dia 4 - 4km, 5h40m, 625m subida

Rui: A noite passada foi mal dormida, quer pelo frio quer pelas decisões que era necessário tomar. Tem estado um tempo muito "húmido", mas mesmo assim consegui convencer a B a fazer a opção difícil. Estava convencido de que ela conseguiria chegar aos 4540m do refúgio Elena. E conseguiu! (Quase) sempre com um sorriso na cara. Que grande mulher!

Os trilhos aqui não param de nos surpreender. Começámos com lamaçal, depois vegetação alpina e trilho de boas condições, mais lama, e quando passamos a linha da vegetação tivemos rocha super escorregadia em que tivemos de dar uso constante aos nossos 4 membros.

Lá fora já não chove. Neva. Mas a partir de agora é sempre a descer para a B, mas eu ainda vou tentar dar uma perninha lá cima...

Dia 5 - Subida ao pico Margherita: 7h, 600m subida e descida + Trekking - 3km, 4h20m, 740m descida

B: 9h24m - Acordei agora com uma dor de cabeça brutal. Noite mal dormida: Rui com ansiedade, eu com preocupação. Mas ainda não voltou, o que deve ser um bom sinal. Da janela do nosso refugio só se vê neve...

Rui: Eu acordei as 5h para iniciar as 6h a subida ao Pico Margherita (5109m) no Monte Stanley, a terceira montanha mais alta de África.

Demorei 4 horas a chegar lá cima por entre rochas e glaciares. Foi a montanha mais alta e difícil que já subi, com algumas zonas técnicas onde (felizmente) existem cordas fixas a ajudar. No regresso demoramos mais 3h porque quando saímos do Glaciar Elena, o guia andou uns bons 30m pedido a procura do trilho... Até às 9h tive vistas fantásticas, mas depois levantou-se nevoeiro. Quando cheguei ao refugio, começou a nevar.

Da parte da tarde, peguei na B e viemos ate cá abaixo, ao refugio Kitandara (4023m), junto a 2 lagos idílicos, na fronteira com o Congo, onde vamos dormir. Estamos os dois muito cansados, eu da subida e a B do cansaço acumulado e da altitude.

Dia 6 – 5km, 10h20m, 345m subida, 815m descida

Rui: Hoje descemos até ao refúgio Guy Yeoman a 3540m, mas não sem antes subir a um passe aos 4280m!

"Caminhar" nos Rwenzori é uma expressão subjectiva: ou estamos em subidas/descidas muito inclinadas e escorregadias, ou então completamente atolados na lama. Às vezes as duas coisas ao mesmo tempo!!!

B completamente estoirada já só quer um banho e uma roupa lavada. Eu por mim também já me chegava.

Amanhã esperemos que seja o último dia, mas não estamos à espera de facilidades.

Dia 7 – 16km, 12h25m, 1800m descida

Rui: Choveu a noite toda o que me deixou apreensivo porque neste ultimo dia tínhamos que atravessar vários rios. Mesmo assim saímos pouco depois das 7h30m.

As travessias do rio fizeram-se sempre com ajuda do guia e carregadores e foram "pacificas" apesar da corrente forte. Foi sempre a descer neste dia, mas tal como nos outros, a progressão é muito lenta devido a rocha escorregadia e lama.

As 16h chegámos ao refúgio da primeira noite e ainda nos faltava um bom bocado para chegar cá abaixo. Decidimos arriscar tal a vontade de um banho e uma cama!

A descida final foi um martírio porque nas travagens feriamos os dedos dos pés contra a parte da frente das galochas… B vinha muito lenta ate calçar umas galochas uns números acima do nosso cozinheiro. Depois foi sempre a abrir!

Ainda tivemos de fazer uma travessia de rio surreal e caminhar à noite na floresta debaixo de chuva tropical…

6 comentários:

Anónimo disse...

Esses gajos do Lonely Planet, sabem lá o que é vida....:))

PV disse...

Xiii, granda boca oh Marco! "True african mountain wilderness"? Pois, pois... Deve ser deve! Olha a carapuçaa servir... Eh pah o Kili é fantástico, pernas haja para chegar lá acima. A "tua" é mais demanding, mas a "minha" é a mais que tudo. O problema é que com tanta montanha neste mundo, não conseguimos ir a todas... Pombas pah!

PV disse...

Fonix até eu fiquei cansado só de imaginar. Conhecendo-vos aos 2, para dizerem o que dizem, foi meeeesmo duro! Acima de tudo os parabéns aos 2 por esta GRANDE aventura!!

Janeko disse...

E a Freita aqui tão perto... N havia necessidade! :)

Bárbara, para o ano estamos a pensar num resort TI. Podemos reservar já para ti? :)

Apreciei tb a vossa troca de galhardetes! Mt bem! Continuem com esse sorriso...

O q se segue?

Abraços,

Anónimo disse...

Oh Gaspar,

"Roubaste-me" o post... aquela parte do resort TI... LOL

Beijos e abra�os.

Anónimo disse...

Quem é esse Rui de quem se fala???

Tb foi com Gato e a Bárbara??

Hugo